14 de dez. de 2011

Os Embalos de Sábado à Noite - Saturday Night Fever (John Badham - 1977) (Com Spoilers)


Nota: 4,5/5

Então, esse post é sobre um dos clássicos do cinema...clássico porque marcou época e porque traz uma das melhores performances do então jovem e desconhecido John Travolta. Confesso que senti uma certa relutância em assistir ao filme, por não ser tão fã de música disco, mas com um pouco de tolerância eu pude apreciar todo o conjunto da obra, que por sinal é marcante. Vou falar um pouco sobre o universo do filme, as coisas que eu pude perceber e que chamaram à atenção. É claro que não vou conseguir falar sobre todos os elementos. Comecemos.

A primeira cena do filme é uma daquelas cenas que entra pra história da cultura pop. Travolta "strutting", ou, na tradução: strut: n andar pomposo, pavoneio. • vt andar de modo afetado ou pomposo, pavonear-se, empertigar-se, emproar-se.  pelas ruas do Brooklyn, ao som de Stayin' Alive, dos Bee Gees. Creio que essa cena, por si só, já dá todo o tom do filme, e mostra a aura do personagem principal, Tony Manero, um garoto nos seus 19 (quase 20) anos, que como muitos outros, vive nos subúrbios de Nova York, tem problemas familiares, uma educação básica, mas tem que dar o seu "jeitinho" pra sobreviver, com um emprego que não indica muito futuro, no caso, uma loja de tintas. É claro que, como todos os outros garotos que também se encaixam no estereótipo, sua vida não é apenas trabalho duro e problemas, Tony achou uma maneira de sublimar todo esse universo opressor em que vive. Ele dança. Todos os finais de semana, ele e seus amigos (estereotipados) vão à boate 2001 Odyssey e, por uma noite, esquecem da realidade externa; Tony se torna o rei das pistas, deixando todos boquiabertos e todas fascinadas pelo jeito como dança qualquer tipo de disco music.

O filme todo é um grande mosaico do que era a vida no Brooklyn nos anos 70, para os amantes de disco. Todo o glam, as drogas e o sexo retratados nas cenas, realmente aconteciam nas discotecas da época. Aqui falarei minha opinião pessoal..creio que a disco surgiu numa época de descrença nos EUA, o momento político não era dos melhores, e o rock tinha se tornado mais "sombrio" e engajado com a crítica social (foi nesse contexto que também surgiu o punk rock, para desafiar a ordem, exaltar a anarquia e etc.), e só o que algumas pessoas queriam era sair pra dançar e se divertir, num lugar onde elas fossem capazes de esquecer de toda a paranoia rotineira e se sentissem bem (é nessa parte que entram as músicas com letras sobre amor, o sexo e as drogas).

Sobre as relações familiares de Tony, é a família clichê problemática. Seus pais nunca lhe deram valor, ele se sente a ovelha negra da família, principalmente depois que seu irmão mais velho se tornou padre, atraindo todas as atenções e elogios da mãe. É uma família de classe média baixa, não parece existir muita sintonia entre nenhum dos membros. Dá para fazer um paralelo entre como Tony se sente e é tratado dentro de casa, com como ele se posiciona em relação à sociedade; ele se sente inútil e sem valor algum, talvez isso explique, em parte, a falta de perspectiva e a imaturidade dele. Talvez ele se ache tão inferior que se sinta perdido com as poucas opções que possui do que fazer da vida. Isso é mostrado nas conversas que ele tem com a personagem de Karen Lynn Gorney, Stephanie Mangano, onde ela lhe pergunta o que ele teria vontade de fazer, e ele responde "alguma coisa, não sei o que..."

O relacionamento que Tony tem com Stephanie é claramente assimétrico, mas parece ter um elemento (além da dança), que conecta os dois. Creio que esse seria o elemento que também difere Tony do seu grupo de amigos; a vontade de provar que tem algum valor, mostrar a si mesmo e aos outros que não é só aquele Tony rebaixado pelos pais, mas sim alguém com talento que pode quebrar a barreira entre o universo que vive e o resto do universo - no caso, Brooklyn e Manhattan, os dois polos opostos - e ele faz isso, a cada vez que dança nos finais de semana.

O filme se desenrola na cena do concurso de dança da 2001 Odyssey, Tony e Stephanie se saíram bem, como de costume, mas houve um outro casal de latinos, que foi muito melhor do que eles. Como se trata de uma época onde os latinos e estrangeiros em geral eram mais discriminados do que hoje, e sobretudo porque se trata do Brooklyn, o casal latino levou o 2º lugar e o casal principal venceu. Esse momento foi um divisor de águas para Tony, é quando aquela vida noturna paralela que ele vem levando perde o sentido. Quando os latinos foram propositalmente premiados com o segundo lugar, e todos ali (incluindo seu grupinho de amigos) são coniventes, tudo se torna uma farsa. Não é possível que um lugar que pra ele representa liberdade seja, na verdade, um propagador de desigualdades. A partir daí, lhe ocorre uma revolta interna, o que culmina na cena onde ele vai até a casa de Stephanie e eles conversam sobre o seu futuro. O filme termina com Tony fazendo planos de sair do Brooklyn, finalmente, e ir morar em Manhattan, para fazer algo diferente, seja o que for, seguindo o exemplo de Stephanie.

Um vídeo clássico, para terminar:

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