25 de jul. de 2012

Dogville (Lars Von Trier - 2003) (Spoilers)


Nota: 5/5

     Mais um do Lars Von Trier, ele que há alguns meses eu julgava merecedor de todo o meu desprezo, por conta do infame "Anticristo", hoje caiu nas minhas graças e eu finalmente consigo gostar do trabalho dele. Dogville é o primeiro filme de uma trilogia do diretor que aborda a natureza humana, pregando que ela é má independente de contextos, culturas, ideologias, etc. O segundo filme é Manderlay - de 2005, com Bryce Dallas Howard - e ainda estamos no aguardo pelo terceiro, se é que ele virá. O elenco inteiro de Dogville é composto de atores e atrizes talentosos e a escolha da Nicole Kidman, em especial, para o papel de protagonista foi muito feliz.
     
     Dogville é dividido em um prólogo e nove capítulos, agora sim posso constatar que essa é uma mania do Lars. Este é um tipo de filme que sempre vai despertar novos assuntos e novos pontos de vista, já que aborda inúmeros temas. Mas, digamos que seja, basicamente, uma análise sobre a natureza humana, soa bastante vago e manjado realmente, mas não deixa de ser merecedor de atenção. Consegue alcançar magistralmente o objetivo da trilogia do diretor, mostrando como a natureza humana pode ser a coisa mais podre e corrupta do mundo, focando esse tema em um determinado contexto e época, isto é, Dogville. (que nada mudam a gravidade dos atos daquelas pessoas, é claro). Um elemento que foi novo e original, pelo menos pra mim, foi o cenário, ou melhor, o "não-cenário", em uma espécie de palco de teatro, onde as casas e etc são apenas linhas demarcadas no chão e as portas, as janelas, as árvores, e todo o plano de fundo ficam a cargo de nossas imaginações. No início, fiquei com um pé atrás, achando que eu nunca ia me acostumar com esse tipo de representação em um filme, mas conforme a história avança, o espectador tende a esquecer completamente que as paredes não estão ali, voltando toda a sua atenção às atuações.

     Indo ao que interessa, a história se passa em um vilarejo minúsculo no Colorado, chamado Dogville, onde encontramos uma típica comunidade de cidades pequenas: todos se conhecem, sabem os segredos uns dos outros, as fofocas e as picuinhas, ou pelo menos acham que conhecem. Tom Edison (interpretado por Paul Bettany), é uma espécie de conselheiro da cidade, e é ele que serve de juíz para toda e qualquer questão que possa surgir entre os moradores. Por isso, quando Grace Mulligan (Nicole Kidman) ao acaso chega no vilarejo, é ele quem se afeiçoa a estranha e serve como intermediário na relação dela com o resto do pessoal. Grace diz ter fugido de um bando de gângsteres que queriam matá-la por ter visto o rosto do chefão, e quer muito permanecer na cidadezinha, já que ninguém iria procurá-la ali, e também por ter se afeiçoado de primeira pelo clima de Dogville, a pacata cidade no meio do nada, cheia de pessoas simples e honestas e uma vista linda para as montanhas..pelo menos essa é a primeira impressão de Grace, que vê a vila sob uma "luz diferente".

     Como condição para se instalar em Dogville, Tom consegue que os moradores concedam à estranha um período de duas semanas, onde ela iria tentar conquistar as suas confianças e o seu afeto, e ela, mais ansiosa do que qualquer outra coisa para ser aceita e se tornar parte da comunidade, aceita a condição. Assim, Grace começa a oferecer sua ajuda em qualquer trabalho que seja necessário, e como na pequena vila de ruas escassas não se precisa de nenhum outro trabalhador, ela acaba por desempenhar somente tarefas que "não são necessárias", mas que seriam boas se houvesse alguém que as fizesse.

    O tempo passa e "Dogville começa a mostrar os seus dentes" (parafraseando o nome de um dos capítulos no qual o filme está dividido). O que vemos ao longo do filme supera a indignação e a repugnância, mostra o quão baixo seres humanos podem chegar quando se trata de tirar vantagens em seu próprio benefício. A vítima, é claro, é Grace, cujo defeito estava em acreditar arrogantemente na bondade intrínseca dos seus companheiros de vilarejo - enquanto eles a humilham, torturam e oprimem de todas as maneiras possíveis, ela jura para si mesma que os entende, que eles apenas estão fazendo o que podem com as condições que possuem e nas circunstâncias em que se encontram, e que também faria exatamente o mesmo se estivesse no lugar deles. A única pessoa que parece ficar do seu lado é Tom Edison, mas conforme a situação dela fica cada vez mais encurralante, ele também acaba achando um motivo para desprezá-la.

     Depois de tantos conflitos internos, no auge de sua arrogância, Grace reencontra alguém que a ajuda a mudar de ideia sobre o seu tratamento em dogville, nesse momento ela passa a ver o lugar sob uma outra luz diferente (de novo), e o filme tem o seu desfecho tão satisfatório para os espectadores (para os não arrogantes, pelo menos!), devo dizer, o desfecho mais bem vingado que eu já tive o prazer de assistir.







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