Nota: 4/5
Meu primeiro comentário aqui no blog sobre um filme do Hitchcock! Um diretor que eu demorei pra apreciar, foi só depois de alguns vários filmes que eu realmente comecei a dar importância ao nome dele. Foi depois de assistir a "Um Corpo que Cai", mais especificamente, que eu me interessei. Sombra de Uma Dúvida foi o primeiro filme que assisti dele, lá pelos anos obscuros de 2007 ou 2008, lembro que havia gostado, mas só essa semana, quando fui revê-lo, eu percebi o quanto é bom. Isso geralmente acontece quando passamos um bom tempo sem ver um filme, e apesar de ser algo que não te proporciona nenhuma "estabilidade", é uma das coisas boas do cinema, poder terminar o filme com uma opinião completamente diferente sobre o tema.
Indo ao que interessa, a sinopse descrita no IMDb é a mais completa, apesar de ser a mais sucinta: "uma jovem descobre que o seu tio Charlie que veio visitá-la, não é realmente o homem que parece ser". Basicamente é isso, com apenas essa informação, o senhor Hitchcock faz um suspense noir que prende a atenção até o fim, mesmo quando já sabemos a verdade sobre o tio Charlie.
A sua musa da vez é Charlie (apelido de Charlotte!), interpretada pela adorável Teresa Wright, ela é uma adolescente simples, mora em um subúrbio comum no interior da Califórnia, mas vemos que é ela quem possui a liderança na família, com sua inteligência e força de vontade, tenta reestabelecer a harmonia da casa. Ela pensa que seus planos se realizarão quando recebe a notícia de que seu tio Charlie (irmão de sua mãe, seu tio favorito e que deu a inspiração para o seu nome) faria uma visita de tempo indeterminado a eles. O tio Charlie, interpretado por Joseph Cotten por sua vez, é o típico homem misterioso e sedutor dos filmes do gênero Noir, na primeira cena do filme, ele nos é apresentado deitado em uma cama de um barato motel, onde está hospedado para tentar despistar dois detetives que estão em sua cola, o motivo só será revelado mais adiante.
Tudo vai às mil maravilhas entre tio e sobrinha, o tio é muito bem recebido pela família, onde é visto como uma estranha mas agradável surpresa, e a jovem fica cada vez mais fascinada pela personalidade do tio, e com as semelhanças entre ambos. Tio Charlie, em meio a tudo isso, deve se sentir feliz, já que pensa que conseguiu fugir definitivamente dos detetives, mas, vez ou outra, tem um comportamento levemente suspeito..como quando repreende Charlie por estar cantarolando uma valsa específica, e quando dá de presente a ela um anel de esmeralda talhado com uma inscrição da antiga dona.
A história muda com a chegada dos detetives à cidade e a consequente mudança de opinião de Charlie sobre o tio. Hitchcock soube segurar bem o suspense ao longo do filme, mesmo depois dessa mudança. Mas há também um humor sutil na história, achei muito engraçadas as cenas em que Joe, o pai de Charlie, e seu colega de trabalho, Herb, discutem qual seria o melhor meio de assassinarem um ao outro, isso acontece ao longo do filme, e por vezes esse tema de conversa tem efeito nos outros personagens, o que já é de se esperar! Outra cena marcante pra mim é quando tio Charlie e a sobrinha tem a conversa que revela tudo: ele diz que ela é apenas uma menina comum (ordinary) de um subúrbio comum, não conhecendo o mundo, não pode julgar os seus atos, pois ela ainda não sabe como o mundo é um chiqueiro e as pessoas não são confiáveis..creio que essa fala dele mostra bastante do gênero de filmes noir e também do período histórico que os EUA, e portanto o cinema, estavam vivendo na época, 2ª Guerra Mundial, as pessoas deveriam estar desacreditadas e desconfiadas umas das outras.
Apenas uma coisa me incomoda nos filmes do Hitchcock, e também já notei em outros filmes antigos, em todos os filmes que já vi dele têm um final absurdamente rápido. As coisas acontecem e não dá nem tempo de processar os fatos pois quando vemos os créditos já estão ali. Inclusive nesse filme, creio que um final mais elaborado poderia ter ficado melhor, mas nada ofusca o ótimo suspense que se passa entre tio e sobrinha xarás.
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