7 de jan. de 2013

A Liberdade é Azul - Trois Couleurs: Bleu (Krzysztof Kieślowski - 1993) (Spoilers)


Nota: 4/5

     Há muito tempo planejava ver o primeiro filme da famosa trilogia das cores do Kieslowski (esse diretor de nome quase impronunciável!), cada filme e cada cor, azul, branco e vermelho, respectivamente, representam unidos, a bandeira da França e falam sobre o lema da Revolução Francesa: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade". Outro atrativo pra mim foi o fato de o filme ser liderado pela linda da Juliette Binoche, uma das minhas atrizes favoritas. 
     Nesse caso, na minha humilde opinião, a história do filme serve apenas como uma base, como um veículo de transmissão da mensagem que realmente há por trás da ficção. Conta a história de uma mulher que acaba de perder o marido e a filha em um acidente de carro, e naturalmente tem de encontrar um meio de conviver com toda a dor da perda e tentar voltar à vida normal, se possível. Após uma tentativa falha de suicídio enquanto ainda estava no hospital, ela se decide por vender a casa onde morava e se desfazer de absolutamente todos os pertences e objetos que possam lembrá-la do marido e da filha, de sua antiga vida - incluindo uma música inacabada do marido, que era músico - um modo um tanto peculiar e estóico de se lidar com uma perda tão inesperada, mas isso parece funcionar pra ela, à princípio. O único objeto que ela deliberadamente guarda é uma espécie de abajur de cristais azuis, que vemos presente em várias cenas do filme.
     Essa nova forma de liberdade que toma conta da vida da personagem, à qual ela se apega como uma última salvação, parece idealizada demais para ser verdadeira...sem amigos, sem família, sem amores, sem lembranças, pois essas são todas "armadilhas" da vida, como se a privação do amor equivalesse à privação da dor. Conforme a história avança, juntamente com a fotografia e a atuação poética, percebemos que o azul sempre presente, é o que resta para a vida de Julie. Vale lembrar que a cor azul representa um estado melancólico, uma fase de transição, e pode ser relacionado com sentimentos de pessimismo e recolhimento emocional. Agora Julie possui uma liberdade total para fazer o que quiser com sua vida (ou não fazer), mas será que essa liberdade é tão bem quista assim? Ou será ela apenas um último recurso de alguém desesperado para fugir da dor, manifestada através de questionadoras e pesadas sombras azuladas sobre o rosto de Julie o tempo inteiro? A liberdade é um ideal, mas ela também é azul.
     Depois da reflexão, pra mim está bem claro que o filme é, acima de tudo, sobre o amor. Como nós, pessoinhas carentes e egoístas, tentamos nos livrar e nos afastar da dor de qualquer modo, como se fosse menos doloroso viver uma existência sem absolutamente nenhuma paixão (tudo aquilo a que Julie renunciou). Julie percebe a contradição dessa relação, aceitando que realmente não há escapatória da inevitável dor que o amor traz junto, nem escapatória do tom azul que a liberdade lhe apresenta, quando ela finalmente aceita isso, ela consegue transcender a um outro nível, onde ela não guarda remorsos pela amante do falecido marido, consegue terminar a obra dele e aceita que tem a capacidade de amar novamente.
     Confesso que à primeira vista achei o filme um tanto lento e sem sentido, mas depois de ler alguns comentários, percebi que realmente não é um filme de fácil entendimento, que nos entrega tudo prontinho, mas é um dos mais belos e sensíveis que vi nos últimos tempos. Isso me relembra que alguns filmes foram feitos para serem puramente sentidos, assim como as cores azuladas e a atuação profundamente melancólica da Juliette Binoche nos remetem.









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