15 de mar. de 2013

Violência Gratuita - Funny Games (Michael Haneke - 1997) - Spoilers!


Nota: 4,5/5,00

     Meu primeiro comentário sobre esse filme é que ele é extremamente tenso, no sentido mais literal da palavra. Qualquer outro filme que eu tenha visto sobre o mesmo "tema" dificilmente se compara a esse em matéria de ansiedade crescente com o desenrolar da história e raiva contra os perpetradores da violência (Peter e Paul), aliás, são filmes como esse que nos fazem desprezar profundamente a nossa própria espécie, por vermos até onde um de nós pode chegar (e toda aquela coisa clichê, mas que infelizmente, é absolutamente verdadeira).
     Foi minha primeira experiência com esse diretor autríaco, Michael Haneke. Conheço mais alguns filmes dele por nome, e agora planejo vê-los com alguma antecedência. É dele também um dos filmes mais bem cotados para o Oscar desse ano, "Amor", tendo levado a estatueta de melhor filme estrangeiro. Mas enfim, levando em conta que não se trata de um contador de histórias convencional de Hollywood, devemos estar preparados para uma experiência diferente, e um final que pode não agradar.
     O roteiro não é exatamente original, mas é um dos bons do "gênero": família isolada em sua casa de campo, pessoas aleatórias invadem a casa para torturá-los sem qualquer razão aparente. Mas, dessa vez os torturadores eram pessoas das quais não desconfiamos, por se dizerem amigos do vizinho e utilizarem um método amigável e sutil de infiltração na casa. Eu, pelo menos, enquanto assistia ao filme, morrendo de raiva dos dois "jovens" que torturavam a família, pensei: "o final deve trazer algum tipo de punição pra eles!", mas o filme acabou, e nada..eles inclusive são mostrados iniciando um novo "trabalho" com a família vizinha. A história mostra a verdade nua e crua, sem qualquer comprometimento com vingança ou justiça ou punição. Todas as regras morais e convenções sociais são completamente estripadas perante nossos olhos, e cada cena é um tapa na cara do espectador.
     Além disso, praticamente não é dada explicação para o que Peter e Paul estão fazendo, apenas em uma cena são mencionados os problemas domésticos de Peter, que ele teria relações incestuosas com a mãe e também problemas com drogas, mas no fim ficamos sem saber se é apenas mais uma mentira ou um fato. Ou seja, isso só vem reforçar a ideia da "violência gratuita", pelo simples prazer de ver o sofrimento alheio, não sei se foi intenção do diretor, mas talvez isso venha se encaixar com uma crítica social voltada à valorização do prazer individualista e destruidor em detrimento dos valores morais, aquela coisa do jovem na sociedade globalizada, são tantos estímulos aos quais ele precisa responder, tanta informação correndo solta, que ele acaba se sentindo vazio , sem saber onde investir sua energia, sem saber em quem ou no que acreditar..isso é terreno fértil para todos os tipos de perversões psíquicas. Não estou tentando justificar as ações, mas claramente existem motivos plausíveis, ainda que condenáveis, para tais comportamentos.
     Aliás, falando sobre a dupla, fica claro ao longo da história que o líder é Paul. Porque além de comandar Peter e chamá-lo de diversos apelidos, ele tem uma espécie de controle sobre o filme. Há cenas em que vemos ele falando diretamente com a câmera, e em outra bastante marcante, ele deliberadamente dá um rewind em um acontecimento que não foi de seu agrado, para poder mudá-lo. Inicialmente eu não tinha entendido direito a intenção do diretor em fazer tudo isso, mas depois lendo alguns comentários, faz total sentido, considerando o teor sádico do roteiro, que é controlado pelo próprio Paul, assim como a vida da família em questão.
     Não há necessidade de comentar sobre as cenas mais pesadas, creio que elas falam por si só, não é um Jogos Mortais da vida, que valoriza a quantidade de sangue e tripas espalhados na cena, e sim necessários para um retrato fiel da realidade nua e crua que acontece na realidade.
     Foi feito um remake em 2007, dirigido também pelo Michael Haneke (até agora estou tentando entender o sentido disso, mas isso não vem ao caso), sei que tem a Naomi Watts no elenco e que é praticamente idêntico (ou exatamente idêntico) à versão original, mas pelo visto não tem a mesma qualidade que o antigo. Não sou fã de refilmagens, mas pretendo assistir, só pra poder formar uma opinião própria.



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