9 de jun. de 2013

Perdidos Na Noite - Midnight Cowboy (John Schlesinger - 1969)


Nota: 4,5/5

     Seguindo no caminho das indicações do "1001 filmes pra ver antes de morrer", encontrei mais uma pérola. Já tinha ouvido falar sobre o filme em algumas referências que indicam que ele é importante na cultura pop cinematográfica. Creio que foi o filme que catapultou a carreira do Jon Voight, e ainda mais a do Dustin Hoffman, que já havia feito sucesso dois anos antes com "A Primeira Noite de Um Homem", dirigido pelo Mike Nichols. Perdidos na Noite foi indicado a 7 Oscars e ganhou 3! Segundo o "1001 filmes...", foi surpreendente eles terem levado na categoria de melhor filme, sendo o primeiro que continha nudez e um tema mais sério, envolvendo polêmicas como: prostituição, homossexualidade e como estamos tratando de um retrato da década de 60, drogas não podem faltar.
     Não li o livro do James Leo Herlihy, que deu origem ao filme, mas creio que seja tão bom (e provavelmente melhor) do que o filme em si. Realmente, o clichê do cowboy inocente do interior que vai para a metrópole tentar a sorte grande e nada dá certo, não é nada novo, mas não nos deixemos enganar, parece simples assim, não fosse por todos os outros elementos que se entrelaçam, sendo o principal, a amizade que Joe Buck - o personagem do Jon Voight - desenvolve com o Ratso Rizzo (quero dizer, Rico!), interpretado pelo Dustin Hoffman.
     "Ratso" é um daqueles perfeitos "malandros" que vivem na rua e só conseguem se manter assim porque aprenderam, provavelmente da pior maneira possível, todas as leis da selva de pedra. Ele se constitui como um contraponto ao Joe, irônico, amargo e geralmente pessimista. Mas, não deixa de alimentar um sonho, o de ir morar na Flórida, onde, segundo ele, estão todas as chances, todas as melhores mulheres, e principalmente, não há invernos rigorosos. A amizade entre ele e Joe começa quando Rico o indica a um "cafetão" que, segundo ele, irá lhe render mais dinheiro como gigolô de mulheres ricas, mas..tudo acaba sendo uma grande cilada. Mais tarde, os dois se encontram de novo e Rico acaba convidando Joe a morar com ele, já que havia lhe roubado 20 dólares nessa última aventura.
     Pra mim, uma das coisas que mais chama à atenção nesse filme, é o balanço que há entre otimismo e pessimismo, desespero. No início, somos levados a acreditar, através do otimismo incurável do Joe Buck e aquela trilha sonora do Harry Nilsson, que a sua aventura na metrópole nova yorkina será bem-sucedida, mas logo quando ele chega lá, percebe que não vai ser tão fácil assim faturar, já que todos olham meio torto para o seu uniforme (literalmente) de vaqueiro, e acabam tomando-o por ingênuo e sempre arranjando alguma desculpa para não pagá-lo. Ratso também, no início é apresentado como um malandro que sabe das coisas (adoro aquela cena que ele para o táxi: "I'm walking here!"), mas depois, seu estado físico vai piorando, agravado pela sua perna manca, ele desenvolve algum tipo de doença respiratória (tuberculose?) que o impede de continuar com a sua rotina de sempre. O que vemos também é o declínio dos sonhos de ambos, no cafofo abandonado e imundo onde vivem, chega o inverno sem piedade alguma, juntamente com a realidade, que os faz passar fome e devanear sobre os planos que tinham antes e também sobre os futuros, que parecem cada vez mais distantes.
     Uma das cenas mais marcantes, dentro do contexto cultural da época, é a cena da festa a qual eles vão, o convite estranho aparece como se fosse um sinal, o qual eles tomam como último recurso, como se fosse um último recurso..chegando lá, a tal festa é aquele tipo que imaginamos, típicas dos anos 60: regada a sexo, drogas e rock'n'roll. Joe fica maravilhado por poder sair daquele universo de pobreza em que estava vivendo e acaba até mesmo progredindo em sua carreira de gigolô, enquanto Ratso só piora na sua condição física, a ponto de nem mais conseguir caminhar após todos esses acontecimentos.
     O que muda tudo, na verdade, é a relação entre os dois. Joe poderia ter escolhido permanecer em Nova York, apesar da vontade de Ratso, ganhando dinheiro com suas aventuras sexuais com as socialites entediadas, mas ele decide realizar um último pedido do amigo e o acompanha até a tão esperada terra da Flórida, esse ato de amizade, humanidade, representa uma mensagem otimista no quadro geral do filme, para mim. É uma pena que Rico acabe agonizando no momento em que eles chegam em Miami, seu rosto moribundo colado ao vidro do ônibus, que reflete as palmeiras balançando, um dia quente e ensolarado. Joe finalmente consegue comprar roupas novas, aposentando finalmente seus trajes sulistas e jogando-os no lixo, a indicação de uma nova vida talvez? Uma vida que com certeza não teria mudado se não fosse pela amizade inesperada mas forte que se criou entre os dois personagens.











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